sábado, abril 23, 2005

Qualquer caminho leva a toda a parte

Qualquer caminho leva a toda a parte.
Qualquer ponto é o centro do infinito.
E por isso, qualquer que seja a arte de ir ou ficar,
do nosso corpo ou espírito,
tudo é estático e morto.
Só a ilusão tem passado e futuro, e nela erramos.
Não há estrada senão na sensação
É só através de nós que caminhamos.
Tenhamos pra nós mesmos a verdade
de aceitar a ilusão como real
sem dar crédito à sua realidade.
E, eternos viajantes, sem ideal salvo nunca parar, dentro de nós,
consigamos a viagem sempre nada, outros eternamente, e sempre sós;
nossa própria viagem é viajante e estrada.
Que importa que a verdade da nossa alma seja ainda mentira,
e nada seja a sensação, e essa certeza calma de nada haver,
em nós ou fora, seja inutilmente a nossa consciência?
Faça-se a absurda viagem sem razão.
Porque a única verdade é a consciência e a consciência é ainda uma ilusão.
E se há nisto um segredo e uma verdade
os deuses ou destinos que a demonstrem do outro lado da realidade, ou nunca a mostrem,
se nada há que mostrem.
O caminho é de âmbito maior que a aparência visível do que está fora,
excede de todos nós o exterior não pára como as coisas, nem tem hora.
Ciência? Consciência? Pó que a estrada deixa
e é a própria estrada, sem a estrada ser.
É absurda a oração, absurda a queixa.
Resignar (-se) é tão falso como ter.
Coexistir? Com quem, se estamos sós?
Quem sabe? Sabe [... (que são?
Quantos cabemos dentro em nós?
Ir é ser. Não parar é ter razão.

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